A CASA DO OSCAR

Saturday, June 16, 2007

DOCUMENTOS SOBRE A ESCRAVIDÃO ESTARÃO DISPONÍVEIS NA SANTA CASA DE PORTO ALEGRE

O Centro Histórico-Cultural Santa Casa, previsto para ser inaugurado em outubrode 2008, terá em seu acervo uma importante documentação restaurada que revelaalgumas faces de um marcante período da história de Porto Alegre e do Rio Grandedo Sul no século19: a escravidão.

Trata-se de documentos manuscritos queregistram sete mil óbitos de escravos sepultados no Cemitério da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, o mais antigo da cidade em ininterrupto funcionamento. Situado em local distante da área urbana, na colina da Azenha, os escravos eram sepultados fora dos seus muros. Afinal, eles não eram considerados "gente". O restauro da coleção de registros de óbitos, composta de 13 livros, integra o projeto Escravos na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre: Memória e Sociedade. Ele está sendo patrocinado pela Caixa Econômica Federal, através do Programa Caixa de Adoção de Entidades Culturais, que vem beneficiando diversos projetos culturais em todo o País .

Graças a um convênio estabelecido entre as duas instituições em 2006 , a Caixa vai repassar R$ 30 mil para a conservação e restauração desses livros. Eles estão em avançado estado de deterioração devido à corrosão causada pela nação da tinta ferrogálica, utilizada na escrita da época. O trabalho de recuperação será realizado em um ano e contará com técnicos altamente qualificados para a minuciosa atividade.

Na avaliação da historiadora do Centro Histórico-Cultural Santa Casa, Véra Barroso, esse material histórico é de extrema importância para a instituição e para a sociedade, porque é um patrimônio que evidencia claramente as relações entre negros e brancos no Estado naquela época. Ela explica que o óbito de escravos era registrado em livros separados dos destinados às pessoas livres.“Após o restauro e a documentação exposta aos pesquisadores e à população, poderá ter uma idéia nítida de como foi esse período sombrio da história no Rio Grande do Sul. Esses documentos são uma prova da herança de racismo e preconceito frente ao afro-descendente em nosso meio”, enfatiza a historiadora. Véra está certa de que nos documentos recuperados serão de grande valia para estudantes, sociólogos, antropólogos, historiadores e médicos interessados em pesquisar sobre o assunto.

Cada registro de óbito é um verbete, no qual constam todas as informações do escravo morto: seu pré-nome (ele não tem sobrenome), sua nacionalidade, idade, cor da pele, causa da morte, o nome do proprietário, entre outros detalhes que traçavam como eram as suas condições de vida. Todos esses dados eram retirados dos bilhetes escritos pelo proprietário que eram colocados junto aos corpos e levados, até o Cemitério da Santa Casa, de carroça ou à mão por outros escravos. Em certas ocasiões, os escravos eram recolhidos na rua e encaminhados à Santa Casa para que fosse feito o seu sepultamento.

Os dados registrados nesses documentos também permitiam avaliar o tempo médio de vida dos escravos adultos, que variava entre 30 e 40 anos. A constatação mais alarmante, no entanto, é o grande número de óbitos infantis. Milhares de crianças morriam de doenças ocasionadas pelas péssimas condições de alimentação e moradia, quando não eram mortas pelas próprias mães. “Essas mulheres desesperadas viam nesse ato a única forma de livrar seus filhos da escravidão e dos maus tratos de seus donos”, explica Véra, acrescentando que entre os escravos adultos também havia um alto índice de suicídio. Observa-se nesses dois gestos a resistência dos negros à escravidão, à vida difícil e infeliz que levavam”,completa.

Afinidade antiga

A Santa Casa de Porto Alegre e a Caixa Econômica Federal nasceram com a própria informação histórica do Estado. As duas instituições têm em comum a atitude de benevolência aos gaúchos necessitados, desde o século 19, em especial à população negra. De um lado estava a Santa Casa que, desde 1826, abria suas portas para milhares de escravos, mortos ou vivos, dando a eles a assistência necessária. Do outro, estava a Caixa, fundada 60 anos depois, como a primeira instituição financeira a guardar a economia dos negros que juntavam dinheiro para comprar sua liberdade. Segundo o superintendente em exercício da Caixa,Ruben Danilo Pickrodt, os primeiros clientes da instituição foram os escravos.

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