A CASA DO OSCAR

Friday, June 08, 2007

SISTEMA DE COTAS NA UnB DEVERÁ CONTINUAR, DIZ ESPECIALISTA



Nelson Inocêncio, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília (foto ao lado) defende o sistema de cotas raciais adotado pela UnB Brasília - O sistema de cotas para negros na Universidade de Brasília (UnB) completou esta semana quatro anos em meio a um debate sobre os critérios de seleção.
A universidade define quais estudantes vão concorrer pelo sistema de cotas com base numa autodeclaração dos alunos, pelo exame de uma fotografia e por uma entrevista. A última avaliação dos candidatos, no entanto, foi muito questionada por conta dos resultados da avaliação fotográfica. O estudante Alex Teixeira da Cunha entrou com recurso por não ter sido considerado apto para concorrer a uma vaga pelo sistema de cotas para negros. O irmão gêmeo dele, Alan, foi aceito pela universidade.
A UnB acatou o recurso de Alex e agora ele poderá concorrer no vestibular pelo sistema de cotas, que reserva 20% das vagas para negros.Em nota oficial, o reitor da UnB, Timothy Mulholland, disse que o uso de entrevistas e as análises de fotografias já foram adotados por outras instituições de ensino superior no país para inibir o comportamento de quem tem a intenção de burlar o processo e não prejudicar aqueles para quem as cotas se destinam."A UnB rechaça veementemente acusações de setores da imprensa de que esse processo seja parte de tribunal racial", afirma Mulholand. "O que a Universidade de Brasília não abre mão é de buscar políticas e ações que contribuam para diminuir a exclusão social na região e no país e para a igualdade de todos no gozo dos direitos da cidadania."
O coordenador do Núcleo do Estudos Afro-Brasileiros da UnB, Nelson Inocêncio, reconhece a necessidade de se melhorar o processo seletivo dos cotistas, mas não acredita na possibilidade de dispensar a fotografia. Para ele, a questão racial no Brasil se desenvolveu com base na aparência da pessoas. Isso explicaria a necessidade de se utilizar o critério da foto para dar seriedade ao processo de seleção.
“A experiência é exitosa, muita gente que nunca teve possibilidade de estar na universidade hoje está, famílias que estão tendo os seus parentes pela primeira vez obtendo títulos, a graduação, o bacharelado, a licenciatura, coisa que jamais pensaram outrora, hoje esse sonho se concretiza, e a possibilidade de a gente conseguir mudar um pouco a paisagem do campus”, afirma Inocêncio."Em relação ao mérito, ou seja, a capacidade dos alunos cotistas, ele diz que é impossível discutir mérito numa sociedade profundamente desigual. “É óbvio que alguém que pertença à classe média, que tem toda uma orientação, que tem uma escolarização de extrema qualidade, vai entrar na universidade e isso é mais do que previsível. Então querer comparar esse estudante com outro que vem de extratos sociais de baixa renda, caso da maioria da população negra, me parece um equívoco.”
De acordo com Inocêncio, muitos alunos que entram na universidade como negros ou pardos também poderiam ser incluídos com base em critérios sociais, já que, segundo ele, mais de 70% dos pobres do Brasil também são negros. “Nós chegamos às políticas de ações afirmativas pelo viés das reparações. Quem conhece um pouco do movimento negro sabe disso, que boa parte discutiu não só a reparação como a possibilidade de se devolver à população negra, de alguma forma, o prejuízo histórico que foi ter sido escravizada por quase quatro séculos.”
Cotista da UnB, Wesley Pereira, 23 anos, foi a primeira pessoa da família a ter a oportunidade de fazer um curso superior. Ele entrou na Universidade de Brasília (UnB), curso de Artes Plásticas, no segundo vestibular de 2004. Para comprar livros e passagem de ônibus, Wesley, que é um jovem de classe média baixa, faz estágio na universidade e recebe R$ 450 por mês. “Só pelo fato de ser negro já sofro discriminação, mas eu faço o meu curso, não devo nada a ninguém, acho que se há algum problema, algum tipo de preconceito, ele é antecedente às cotas.”

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