A CASA DO OSCAR

Tuesday, June 05, 2007

CASO DO HOMEM ERRADO É DEBATIDO EM PORTO ALEGRE

O Núcleo dos Jornalistas Afro-brasileiros do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul promove o segundo painel do ciclo "Sugestão de Pauta: Mídia Étnica", retomando o debate sobre o brutal assassinato do operário negro Júlio César de Melo Pinto, o Boneco, confundido com um assaltante de banco em 14 de maio de 1987.

O evento está marcado para o próximo dia 14 de junho, quinta-feira, às 19 h, no auditório da Associação Riograndense de Imprensa - ARI, Avenida Borges de Medeiros, 915, 8º andar, centro de Porto Alegre/RS. O painel "O Caso do Homem Errado - o jornalismo a serviço da verdade"terá como palestrantes os jornalistas Renato Dorneles e Paulo Ricardo de Moraes, a socióloga Reginete Bispo, o juiz aposentado Luiz Francisco Correa Barbosa e o fotógrafo Ronaldo Bernardi. Ao trazer à memória o crime - conhecido como 'O Caso do Homem Errado' - que abalou a crônica policial, o Núcleo quer provocar a reflexão sobre como o negro é evidenciado na mídia, sempre como culpado. No caso de Júlio César, executado por policiais militares a mando de seus superiores, a Imprensa teve papel fundamental na divulgação dos fatos que levaram à condenação de sete dos oitos policiais militares envolvidos. A partir da foto de Ronaldo Bernardi, publicada em Zero Hora, deflagrou-se uma campanha, visto que a imagem mostrava que Júlio ainda estava vivo quando foi levado em uma viatura policial. A seqüência de fotos foi exposta em vários países e recebeu diversos prêmios de Jornalismo.

O testemunho do fotógrafo

"O que mais me chamou a atenção no assalto do supermercado é que havia uma pessoa algemada, sendo espancada por policiais militares e conduzida à viatura 285 do 1º BPM. Os policiais tentaram me afastar. Quando eles saíram, eu me agarrei no capô do carro. Júlio César tinha uma expressão de horror. Corria um filete de sangue pela sua boca. Com uma mão, eu me segurava na haste da ventarola. Com a outra, continuava fotografando. Só desci do carro quando terminou o meu filme. Peguei o carro do jornal e fui para o HPS. Os PMs apareceram 37 minutos depois. Júlio César estava morto".

Um breve histórico

14 de maio de 1987. Júlio César - empreiteiro da Companhia Riograndense Telefônica - CRT, especialista em instalação de cabos eletrônicos, voltara do trabalho por volta das 18 horas. Ao chegar em casa, sua mulher -Juçara- pediu que ele posasse para uma foto com um dos meninos que ela cuidava e que estava de aniversário. O operário tirou a foto e disse que iria tomar banho, mas ouviu tiros e se dirigiu à rua. Morador vizinho do supermercado Dosul, onde ocorria um assalto, Júlio César foi conferir o que estava acontecendo.

O homem negro, sem documentos, sofreu um ataque epilético e foi tomado como um dos ladrões pelos PMs que o detiveram e posteriormente o mataram. Júlio César morreu sem saber porque. Juçara só conseguiu confirmar o crime e descobrir o corpo do marido quatro dias depois.

Porque relembrar

Este episódio é lembrado pelo Núcleo de Jornalistas Afro-brasileiros com intuito de estimular junto aos jornalistas, comunicadores, universitários dos cursos de Comunicação e Jornalismo e ao público em geral: o conhecimento, reflexão e conscientização sobre diversidade racial, a invisibilidade da população negra na mídia brasileira e a importância da implementação de políticas de ação afirmativa nos meios de comunicação.

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