A CASA DO OSCAR

Monday, July 02, 2007

MINISTRO DANIEL ELIE, DA CULTURA DO HAITI DEFENDE DIVERSIDADE CULTURAL COMO RESISTÊNCIA À GLOBALIZAÇÃO

Por Oscar Henrique Cardoso
Brasília - Presente ao Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural: Práticas e Perspectivas, realizada na última semana em Brasília, o ministro da Cultura e da Comunicação da República do Haiti, Daniel Elie, acompanhou as palestras e também se encontrou com o ministro de Estado da Cultura, Gilberto Gil. Na ocasião, a conversa dos dois dirigentes nacionais foi o reforço a políticas e programas de integração cultural. As duas nações são "culturalmente irmãs" e, em reunião realizada em fevereiro de 2005 essa irmandade já havia sido reforçada. À época, o ministro Gilberto Gil com a então ministra da Cultura, Magali Denis adotaram a celebração do dia 18 de agosto como o Dia da Amizade Brasileiro-Haitiana pela Paz. Também definiram acordos de cooperação em três áreas identificadas: programa de pesquisa comparada e de intercâmbio de formação no domínio das artes marciais afro-americanas (Jeu de Baton, Capoeira); um projeto no domínio baseado na troca de experiências culturais e de pesquisa no domínio da religiosidade afro-americana, e outro de intercâmbio artísticos dos carnavais haitiano e brasileiro.

Antes de ser recebido em audiência pelo ministro da Cultura Gilberto Gil, na tarde do dia 28 de junho último, na sede do MinC, o ministro Daniel Elie concedeu uma rápida entrevista ao Portal Palmares. Nela, ressaltou a irmandade entre as duas nações, o destaque pelo qual o Brasil está recebendo por liderar as discussões em torno da diversidade cultural no continente americano e também falou da necessidade de se reforçar entre os haitianos um maior conhecimento acerca do Brasil.

Portal Palmares: A cultura africana é predominante no Haiti? Seu povo é predominanetemente afro-descendente?

Daniel Elie: Todos os haitianos são de origem africana. A porcentagem é a grande maioria da população. Há uma mescla de múltiplas nações africanas que se integraram no espaço colonial de Saint Domain e que depois formou um só povo.

Portal Palmares: O Haiti apóia a integração entre todos os latino-americanos.

Elie: Sim, o Haiti apóia a integração latino-americana que é promovida pelo Brasil. Apostamos muito no valor da cultura. O Haiti sofreu muito com esta falta de integração. Através do Brasil como um grande líder no que se refere ao desenvolvimento cultural, Haiti sente que há um espaço aberto para cooperar com o Brasil para ajudar e participar do estabelecimento deste intercâmbio.

Portal Palmares: A promoção da diversidade é a única forma de fortalecer as Américas e o Caribe?

Elie: É a única alternativa, e o Brasil que tem uma grande diversidade cultural por sua formação histórica, política, econômica e social nos indica a direção. Haiti quer e irá se integrar a este movimento de diversidade com o Brasil. A primeira ação que Haiti propõe é de militar em todas as manifestações que propõem a diversidade contra a globalização negativa que se dá sobre todos. Esta é a primeira ação a qual nos propomos a trabalhar

Portal Palmares: Que referências os haitianos tem do Brasil?

Elie: A primeira referência é o futebol, porque todos os haitianos são fanáticos pela seleção brasileira. E quando há uma partida de futebol e o Brasil ganha há sim uma festa no país. Quando Brasil perde, há sim uma tristeza. Há uma falta de conhecimento do haitiano sobre o brasil, os quais tem tantas coisas em comum. Penso que o grande desafio é estabelecer uma grande cooperação cultural entre o Haiti e o Brasil.

Portal Palmares: Qual a sua avaliação acerca do racismo e da intolerância religiosa, cultural e social?

Elie
: São situações que levam a reflexão. Faz muitos anos que a discriminação racial está ligada mentalmente. Por outra parte, em realidade acaba sobrevivendo. Portanto, nós temos que lutar contra esta forma de desvio mental do ser humano. É um fenômeno tão importante (racismo) que temos que redobrar esforços para bloquear o desenvolvimento disso, contrário à essência do ser humano, o qual é alimentado por diferentes setores do mundo para desviar a população de um objetivo superior de se integrar.

Após acompanhar o Seminário Diversidade Cultural, em Brasília, o ministro Daniel Elie cumpriu agenda em Salvador, onde visitou, de 30 de junho a 2 de julho último, museus e galerias ligadas ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia (Ipac). Sua visita a capital baiana também incluiu visita ao Pelourinho, ao Terreiro do Bogum, no Engenho Velho da Federação, além de participar do Desfile do Dois de Julho, data histórica da Bahia. Daniel Elie também foi recebido em audiências oficiais pelo governador da Bahia, Jacques Wagner e pelo secretário de Cultura da Bahia, Márcio Meirelles.


CONHEÇA O PAÍS
O Haiti é um país das Caraíbas que ocupa o terço ocidental da ilha Hispaniola, possuindo uma das duas fronteiras terrestres das Caraíbas, a fronteira que faz com a República Dominicana, a leste. Além desta fronteira, os territórios mais próximos são as Bahamas e Cuba a noroeste, Turks e Caicos a norte, e Navassa a sudoeste. A capital do país é Porto Príncipe. O Haiti é uma república presidencialista com um Presidente eleito e uma Assembléia Nacional. A constituição foi introduzida em 1987 e teve como modelo as constituições dos Estados Unidos da América e da França. Foi parcial ou completamente suspensa durante alguns anos, mas voltou à plena validade em 1994.
O Haiti foi a única nação negra liberta das Américas, em 1º/1/ 1804. Primeiro país negro livre no mundo moderno,teve um governo monárquico e independente e exibiu a mais próspera economia do Caribe. Sua independência foi passo decisivo numa busca dramática pela liberdade, que continua até hoje. Hoje, milhares de haitianos vivem nos Estados Unidos, tornando a nação uma exportadora de refugiados. Os recursos enviados do estrangeiro pelos nativos constituem receita fundamental à economia miserável da ilha. No contraponto, muito do ilícito nacional é consentido pela conexão haitiana em solo americano.
Desde o período de colonização o Haiti possui uma economia primária. Produzia açúcar de excelente qualidade, que concorreu com o açúcar brasileiro no século XVII e junto com toda produção das Antilhas serviu para a desvalorização do açúcar brasileiro na Europa. Após vários regimes ditatoriais, hoje em dia seu principal produto de exportação ainda continua sendo o açúcar, além de outros produtos como banana, manga, milho, batata-doce, legumes, tubérculos e muito mais.
Atualmente sua economia encontra-se destroçada e em ruínas. O país permanece extremamente pobre, sendo o mais pobre da América e de todo Hemisfério Ocidental, tão miserável como Timor-Leste, Afeganistão, entre outros. 50,2% da população é analfabeta, a expectativa de vida é de apenas 51 anos. Sua renda per capita é um-terço da renda da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.
Embora a densidade populacional do Haiti suba em média a 270 habitantes por quilómetro quadrado, a sua população está concentrada nas zonas urbanas, planícies costeiras e vales. Cerca de 95% dos haitianos são de ascendência africana. O resto da população é principalmente mulata, de ascendência mista caucasiana-africana. Uma minúscula minoria tem sangue europeu ou levantino. Cerca de dois terços da população vivem em áreas rurais.
O francês é uma das duas línguas oficiais, mas é falado só por cerca de 10% da população. Quase todos os haitianos falam Krèyol (Crioulo), a outra língua oficial do país. O inglês é cada vez mais falado entre os jovens e no sector empresarial. O catolicismo romano é a religião de estado, professada pela maioria da população. Houve algumas conversões ao protestantismo. Muitos haitianos também praticam tradições vodu, sem ver nelas nenhum conflito com a sua fé cristã. A padroeira do Haiti, na Igreja Católica, é Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

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